quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Parábola: Entre o sentimento bom e ruim há uma frágil linha tênue.

Em um vilarejo isolado havia um camponês, sereno e jovial, havia passado por suas experiências mas nada disso o abalara. Certo dia, enquanto caminhava se viu sair de uma natureza bela, cheia de aconchego visual, e emergiu à uma natureza conturbada, cheia de pedras e de mato alto acobertando todos os perigos daquele ambiente hostil, mas ele não se abalou, e enquanto atravessava essa floresta escutou um barulho e olhou curioso, continuou a andar, ignorando, mas ouviu de novo, quando levou seus olhos a origem do barulho observou algo a observá-lo, com um olhar conquistador um pequeno macaquinho o analisava, cheio de carisma e com um pelo chamativo que o surpreendeu pelo tom, sua cor era indescritível, ele sentiu vontade de observá-lo por horas, e o macaquinho não se intimidava com isso, o fitava de volta, numa expressão de total admiração pelo sereno camponês, que subitamente inclinou rumo a outro caminho, mas o macaquinho o seguiu pelas folhas, e pulando inseguro entre alguns galhos conseguiu chamar a atenção do seu mais novo amigo. O camponês se encantou com essa atitude e inclinou seu ante braço curvado ao esbelto e impressionante animal e sem o macaquinho, sem exitar, deu um pulo preciso e ali ficou, enquanto em um abraço único em seu mais novo dono, e aquele momento os uniu no espírito. 
No vilarejo todos o viam com o animal, ele se viu preocupado com o assédio e resolveu limitar a imagem do seu macaquinho. E ao sair de casa sempre o deixava ali, trancado com uma estaca, de janelas tampadas. Raramente o macaco era visto, e assim seu dono o privou do perigo do mundo, ao voltar pra casa era sempre recebido com saudades, e essa recepção selava um sentimento novo no camponês, o que ele não sabia era que esse sentimento o traria dor, ele experimentava o sentimento de posse por algo belo, que todos queriam ver, brincar, ter em suas cabanas. 
Com o tempo o animal mudou o comportamento, quando o camponês retirava a proteção da porta e adentrava à cabana, notava o seu belo macaquinho sem expressar saudades, ele sentia que ainda era querido pelo animal, mas interpretou como um breve momento que o animal estivesse passando, e ignorou. 
Certa vez o macaquinho descobriu que, em um dos cantos da casa havia a possibilidade de empurrar a cobertura e sair, mas por amor não saiu, talvez teria interpretado que o que seu dono estivesse fazendo, o prender assim sem motivos, seria um fragmento ruim em uma vida inteira de amor e confiança entre ele e seu dono. 
O macaquinho se acostumou em não sentir tantas saudades do seu dono, já que o veria mais cedo ou mais tarde, e que não teria opção, e seu dono se acostumou com a distância entre os dois e deixou de o cortejar, em admirar sua exuberância, deixou de entretê-lo com o básico, antes havia o universo para o macaquinho se entreter, e agora nem o amor de seu dono sentia mais. 
O camponês, mesmo se tornado distante, ainda preservava o hábito de despedir com um carinho rápido em seu pelo, mas certa vez não o fez. Saindo distraído por problemas financeiros, o camponês, no caminho, lembrou que faltava algo, como se tivesse esquecido algum objeto de extrema importância, buscou em sua memória o que seria, deu o melhor de si por minutos a fio, mas não encontrou nada que lhe fizera falta. E continuou sem caminho, ao voltar observou o animal diferente, cheio de mistério, pensou em provocá-lo com alguma brincadeira, mas o macaquinho se limitou a reações óbvias, o camponês pensou mais um pouco, mas por fim deixou pra la, talvez ele estivesse cansado demais pelo seu dia, talvez estivesse em devaneios. 
Já a noite, no mesmo dia, enquanto uma luz de lamparina criava silhuetas à parede, o animal se viu em sombras, contemplou a exuberância em seus extremos, intimamente suprida, havia sido visto, e absorveu a admiração de quem o via com o máximo de eficiência que podia, pois sabia que tudo acabaria em poucos minutos. Mas sentiu-se culpado, indeciso sobre apreciar de sua temporária aventura ou se redimir por algum erro que teria cometido, mas qual erro?